quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Puramente #37 - A Ciência das Compras

Nome: A Ciência das Compras

Autor: Paco Underhill

Data Original: Outubro 1999

Frase: "O óbvio nem sempre é aparente"

Keywords: compras; centro comercial; loja; comportamento; consumidor; observar;

Apreciação: ****

Esta é a primeira vez que o PuraMente menciona um livro de gestão contemporânea escrito no século passado. A razão é que não existem obras posteriores sobre esta temática que possam substituir os estudos de Underhill. Curiosamente, existem outras obras especializadas em áreas do comportamento do consumidor e da gestão de retalho, mas nenhuma com a abrangência deste.

A Ciência das Compras estuda com detalhe os aspectos relacionados com o mindset dos consumidores no momento da compra, mencionando com um detalhe profissionalmente relevante e pessoalmente divertido os aspectos de comportamento que cada um de nós tem determinados momentos, espaços ou situações. A função primária do livro é saber como compram os consumidores e porquê.

Paco explora e explica factores muito relevantes para os gestores das várias áreas do retalho, em especial nas zonas de interacção vendedor-comprador, e sempre num plano B2C (business to consumer). As zonas de abrandamento, as distâncias entre móveis e o desagrado do toque, o posicionamento da sinaléctica, as quotas do mobiliário, as limitações das mãos e a influência dos olhos, os tempos de paragem cerebral para absorção de mensagens e a forma como as pessoas em geral e os clientes em particular se movem são exemplos de variáveis que influenciam as decisões de compra.

Noutro registo, o livro aborda as diferenças de comportamento entre o homem e a mulher, mostrando a relevância no ciclo de compra e contextualizando estas diferenças como exemplo de alterações de comportamento em distintos segmentos.

A obra de Paco Underhill vale a pena pela sua singularidade e abrangência, apesar do seu carácter excessivamente prático – cujos danos colaterais são menos estrutura e conclusão lógica – e de alguma desactualização nos exemplos.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A falsa partida

Quando escrevo este texto (sexta-feira 18) a Conferência de Copenhaga está num impasse. Apesar da presença dos principais líderes Mundiais, o último dia deste encontro não trouxe ainda quaisquer novidades sobre o cenário de combate às alterações climáticas num cenário pós-Protocolo de Quioto.

A discussão centrou-se na definição de objectivos de redução de emissões de gases com efeito de estufa (80 % de redução até 2050 para os países ricos é uma das propostas), no financiamento aos países subdesenvolvidos e no papel que as economias emergentes terão num futuro acordo climático. Mas esta foi também a conferência onde ficou evidente que a nova ordem Mundial também existe para as questões climáticas (as 2 maiores potências, EUA e China, são também os maiores emissores e decisores) e que a clivagem entre as intenções dos países “ricos” e as expectativas de desenvolvimento dos países “pobres” é uma realidade.

Esta falsa partida do sucessor de Quioto traduz-se numa oportunidade perdida. Uma oportunidade para se iniciar a alteração de paradigma energético e dos nossos hábitos de consumo, mas também para nos adaptarmos de forma decisiva às consequências das alterações climáticas. Com ou sem acordo vinculativo as mudanças são necessárias e urgentes. As discussões certamente continuarão mas um acordo eficaz só existirá com uma efectiva partilha de responsabilidades entre todos. Aguardamos as cenas dos próximos episódios durante 2010.

Francisco Parada

Engenheiro Artigo publicado no Jornal Metro de 21 de Dezembro

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Eucalipto



O anúncio da passagem da Red Bull Air Race para Lisboa apenas confirma o que já se suspeitava há meses.

É certo que estamos num espaço concorrencial e que isso inclui a disputa, entre cidades, pelos melhores eventos. Mas, ao que se diz, Lisboa ganhou por apresentar patrocínios elevados, concedidos por empresas cuja gestão é, no mínimo, influenciada pelo Estado. Essas empresas teriam a ganhar sensivelmente o mesmo se apoiassem o evento no Porto, Coimbra, Faro ou em outra cidade. É concorrência? Não, o que temos é abuso de posição dominante.

É mais um sintoma de como o país é centralizado. Não é a maior maldade que se faz às regiões, já que as verbas do QREN, por exemplo, têm um impacto mais duradouro. Em vez de se tentar promover um desenvolvimento harmonizado, cai-se na tentação engordar a capital, onde tudo tem que acontecer. Nada sobra para as outras cidades.

Lisboa é um eucalipto que seca o país.

Fico triste pelo Porto? Sim, mas fico muito mais triste por Portugal. O país não tem estratégia, está cada vez mais desequilibrado e menos sustentável.

Esperemos que no Domingo o Porto marque pontos, pelo menos no futebol, como tem acontecido nas últimas décadas.

Mas não chega....


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Metro em 17 de Dezembro de 2009

(remake do post A "Face Oculta" dos Aviões, de 7 de Dezembro de 2009)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

PuraMente #36 - Speculations & Trends



Nome: "Speculations & Trends"

Autor: Pedro Barbosa

Editora e Data: Vida Económica - 2009

Frase: "Não olhe para o retrovisor, porque o que está à frente dificilmente será igual ao que ficou lá atrás"

Palavras Chave: "Global Trends"; "Harvard Trends"; "Mashup"; "Antecipe-se"; "Wisdom of Crowds"; 

Apreciação: ****

É prudente avisar desde já: a análise a este livro é especial. O autor, Pedro Barbosa, é um dos responsáveis por esta coluna semanal e eu próprio tive o prazer de prefaciar "Speculations & Trends". Por este motivo, este texto pode sofrer algum enviesamento, ainda que involuntário.

"Speculation & Trends" propõe-se falar de tendências para os próximos três anos. Num registo bastante informal, e sem a pretensão de adivinhar o futuro, tenta-se ler no presente os sinais do que poderá acontecer a partir de agora.

A primeira parte resume uma visão do autor e de 712 pessoas que foram consultadas na preparação do livro, numa lógica de "mashup" e "Sabedoria das Multidões". Divide-se em oito capítulos, onde são abordados assuntos distintos como consumo, saúde, tecnologia, energia, entre outros. Na segunda parte, o autor recorre menos ao "vox populi" e a "trend setters", preferindo dissertar em pequenos textos sobre assuntos discutidos em meios académicos, com destaque para Harvard.

Deve reforçar-se a ideia que, neste livro, não se encontra apenas a perspectiva do autor. Houve o cuidado de consultar centenas de pessoas e fontes, muitas opiniões e críticas. O leitor, mais do que procurar respostas, deverá abordar criticamente o que vai encontrando página a página, permitindo as suas próprias especulações e reflexões.  Também por isso, "Speculation & Trends" pretende dirigir-se aos intelectualmente curiosos e forward thinkers.

Um outro aspecto que torna o livro diferente é o facto de não ter direitos de autor, podendo ser livremente copiado ou citado, em parte ou no seu todo. É uma tentativa do autor de se antecipar, ou ser um dos pioneiros na adopção de uma tendência de "open source" e "mashup". Porque, como o autor defende, no futuro o conhecimento será cada vez mais livre e passível de ser utilizado e acrescentado pela comunidade. 

Uma obra altamente recomendável.

Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no Jornal de Negócios de 16 de Dezembro de 2009


Uma questão contabilística

Cada vez mais as empresas têm a sua actividade assente em projectos ou empreitadas, com elevados factores de imprevisibilidade, o que as “obriga” a recorrer ao trabalho temporário, dada a inflexibilidade do actual código de trabalho, para evitar danos maiores aquando da suspensão de um dos projectos em que se encontrem envolvidas.

Não será a melhor forma de estabelecer relações contratuais, mas adapta-se à realidade.

Já não é aceitável eternizar relações contratuais assentes nesta ferramenta quando a necessidade de trabalho é permanente.Um utilizador frequente é o Estado; reduz os custos com pessoal e foge às regras dos contratos colectivos de trabalho e consequentes regalias.

Acontece que muitos dos colaboradores neste regime, após cumprirem o limite de 24 meses de trabalho, são enviados para o desemprego, sendo novamente chamados 3 ou 4 meses depois. A alternativa é recrutar outras pessoas que vão ter de aprender a fazer aquilo que as anteriores já sabiam, com a consequente improdutividade.

Com esta atitude nada se ganha. Estas pessoas deixam de produzir mas o seu custo mantém-se no estado, mas agora pelo pagamento do subsídio de desemprego.

Troca-se a conta, mantém-se o custo, elimina-se a produção!

Não seria mais racional mantê-las no activo? Pelo menos o seu custo, suportado por todos os contribuintes, era ressarcido pelo seu esforçado desempenho.

Jorge Serra
Gestor

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Um Mundo mais Verde? Depende de Si

Com a incapacidade das Instituições em executarem um caminho que permita a preservação do Planeta, temos de ser nós, os indivíduos, a determinar esse caminho e a velocidade da caminhada; para o efeito podemos usar as decisões de compra e o voto político. Quem não se lembra do boicote aos produtos indonésios em prol da causa de Timor ou da não compra de determinadas marcas porque produziam os seus produtos em fábricas com exploração infantil ou porque utilizavam produtos geneticamente modificados; se quisermos, poderemos voltar a fazê-lo. As empresas embora tenham como objectivo o lucro, tem de o obter atendendo às preferências e comportamentos dos seus consumidores; é pois aí que se inicia a nossa capacidade de intervenção, preferindo produtos mais verdes e sancionando produtos ou origens mais poluentes. As empresas estão disponíveis para fazer a sua parte; são exemplo as investigações que desenvolvem e os novos produtos que colocam no Mercado, os edifícios energeticamente mais sustentáveis e as embalagens retornáveis e não deriváveis do petróleo. Por outro lado, o direito de voto exercido em eleições, também pode sancionar propostas governativas que não contemplem este eixo de sobrevivência estratégica. Não desanimemos, tenhamos presente a nossa vontade, actuemos em conformidade, e um Mundo mais Verde será uma consequência. António Jorge Consultor em Estratégia, Marketing e Vendas Publicado no Jornal "Metro" a 11Dez09

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Post atípico : Back Here!

Foi ontem e hoje publicado o livro "Speculations & Trenbds " - "Tendências 2010-2012", lançamentos no El Corte Inglés de Lisboa e Gaia Porto.
O livro é, em toda a linha, made in Mercado Puro. Escrito por mim, prefaciado pelo Filipe Garcia e com a ajuda de muitos dos co-autores deste blog. Obrigado a todos, mais detalhes em www.speculationsandtrends.com Este post serve de base a um pedido de deculpas a todos pela minha relativa distância dos conteúdos do Mercado Puro, nestas semanas de preparação do livro. Continuei as minhas colaborações habituais com o Metro e Jornal de Negócios, mas com uma cadência menos acelerada. Estou aqui para dizer-vos : estou de volta. Obrigado a todos que ajudaram na construção do livro e estiveram nos seus lançamentos. Um abraço, Pedro Barbosa

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Inquérito: como classificamos esta década?

O jornal "Público" tem um inquérito on-line que me fez reflectir um pouco.
A questão é muito clara:
Como classificaria esta década?
A resposta talvez não tão simples: 1 - Década da Crise 2 - Década dos Países Emergentes 3 - Década da Internet e da Tecnologia 4 - Década da Ecologia 5 - Década do Terrorismo
E no que toca ao "Mercado Puro", como é que cada distinto membro responde a esta questão?
Existem algumas sugestões de resposta que não necessariamente as do "Público"?
...
Alguns marcos dos anos 2000, elaborado com ajuda da Wikipedia:
Uma longa década que "começa" com os atentados de 9/11 ao World Trade Center e "termina" com a eleição do primeiro presidente negro nos EUA, tendo pelo meio a guerra no Afeganistão, a invasão e a guerra no Iraque, a independência de Timor-Leste (2002)...
Uma das décadas mais estáveis e prosperas da economia mundial até finais de 2007 quando a crise económica coloca em risco a economia mundial, levando muitos países a entrar em recessão e pondo, inclusivamente, em causa o próprio modelo de desenvolvimento assente na globalização. A China atinge um crescimento económico sem precedentes, anunciando a sua entrada (liderança?) no restrito clube das superpotências mundiais...
Na tecnologia, são inúmeras as novidades - quase uma revolução (?)
Cresce a penetração da banda larga, revolucionando as tecnologias de informação e comunicação – desde a popularização dos serviços de mensagens instantâneas (MSN, Skype, entre outros) aos primeiros serviços de relacionamento on-line e às redes sociais (Twitter, MySpace, Hi5 e Facebook, etc.); Assinala-se o início do movimento conhecido como Web 2.0, tendo como principais ícones a Wikipédia, o Google Knol, o Youtube, os Blogs e Fóruns de discussão, o Twitter e a construção colectiva do Linux; aplicativos comuns de desktop passam gradualmente a ser fornecidos online;
Enquanto a Microsoft lança o Windows XP, o Windows Vista e o Windows Seven, havendo já a previsão para o lançamento do Windows Azure (sistema operacional para a computação em nuvem), a Apple renova os seus paradigmas tecnológicos, lançando o Mac OS X e computadores com chip da Intel;
A disquete cai em desuso, sendo substituído pelo CD-R, DVD, pen-drive e o ressurgimento dos cartões-de-memória; O Blu-ray substitui o DVD, que por sua vez torna obsoleto as fitas VHS; todavia, em 2009 já é anunciado o desenvolvimento do Holographic Versatile Disc ou HVD que é a nova tecnologia de discos ópticos que promete suceder ao Blu-ray;
A Apple lança o iPod e o Iphone, revolucionando o mercado de telemóveis e de MP3 players;
Enquanto os MP3 e MP4 Players, os telemóveis, os computadores portáteis e ultra portáteis e as câmaras digitais se tornam populares, novos conceitos, como a computação em nuvem, dão os primeiros passos…
No cinema, voltaram filmes antigos como Casablanca, 2001, uma Odisseia no Espaço, etc. e sagas de filmes antigos como o Indiana Jones; Na televisão, popularizam-se os reality shows, como o Big Brother, a par do surgimento de séries americanas de grande sucesso como LOST, Grey's Anatomy, Ugly Betty, Heroes, Prison Break e 24 horas.
A escocesa Susan Boyle torna-se célebre no mundo todo após ter no reality show inglês "Britain's Got Talent", batendo um recorde de visualizações de vídeos na internet.
A ciência permite concluir a sequenciação do ADN humano;
A descoberta do planeta-anão Éris, maior que Plutão, motiva a redefinição do sistema solar, criando a categoria dos planetas-anões, dentro da qual foram incluídos Éris e Plutão, além do antigo asteróide Ceres. Esses planetas formaram um grupo separado dos planetas principais, que voltaram a ser oito;Descoberto Gliese 581 c, o primeiro planeta possivelmente habitável fora do sistema solar;
A NASA confirma a existência de água em Marte e na Lua; Reacende-se a polémica referente ao Aquecimento Global e a sustentabilidade passa a estar na ordem do dia;
A nave Voyager 1 chega à heliopausa e ultrapassa os limites do sistema solar…
Maravilhoso Mundo Novo!

O fim da hegemonia ocidental (*)

Num magnífico ensaio, publicado a 7 de Dezembro na revista “Newsweek”, o economista e historiador Niall Ferguson descreveu os passos que sempre levaram à queda dos grandes impérios. Endividamento, baixo crescimento e elevados gastos – foram sempre essas as razões do declínio económico, político e social. Ora, é bem possível que estejamos a testemunhar mais um desses momentos críticos da história. Esta semana, as agências de notação de risco apontaram armas à Grécia. Em breve, é provável que façam o mesmo com outros países europeus. E, muito mais importante ainda, foram já dizendo que a credibilidade do governo norte-americano, nomeadamente a confiança associada ao pagamento da sua dívida pública, não está imune à crise internacional. No passado, o indicador económico que melhor permitiu antecipar a queda dos impérios foi quase sempre o serviço de dívida. No século XVI e XVII, o Reino de Espanha entrou em ruptura de pagamentos catorze vezes até implodir. No século XVIII, antes da revolução que se seguiu, a França gastava mais de 60% das suas receitas no pagamento de juros. O Império Otomano, no século XIX, caiu pela mesma razão. E o Império Britânico, que, no século passado, entre as duas guerras mundiais consumia mais de 40% do seu orçamento no financiamento dos empréstimos provenientes do exterior, idem. A história repete-se e, quase, nunca é diferente. (*) publicado no jornal “METRO” a 9/12/2009.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Sustentabilidade. Que futuro ?

Depois de nos últimos anos termos assistido a um conjunto generalizado de reformas “douradas” antecipadas em empresas privadas, públicas e organismos do Estado, será que é desta que o sistema das reformas vai mudar radicalmente? Ou pelo contrário, será que a retoma vai fazer esquecer a importância do tema da sustentabilidade da segurança social e vamos continuar com paliativos?
De acordo com estudos da Comissão Europeia, em termos médios, é esperado que até 2050 o número de cidadãos das faixas etárias acima dos 55 anos cresça exponencialmente. Por outro lado, é unanimemente aceite que é necessário garantir o equilíbrio e a sustentabilidade dos sistemas nacionais da segurança social, e que não é possível continuar a existir uma política de gestão de pessoas que generalize a atribuição de reformas antecipadas ou reformas após 35 anos de serviço.
Estes dois factores, ou seja, a inevitável alteração de grupos etários até 2050 por um lado e a necessidade de equilibrar os sistemas da segurança social por outro, vão exigir um enfoque das empresas e do Estado, enquanto empregadores, na implementação de medidas que apliquem e reforcem o princípio da solidariedade inter-geracional isto é, caberá aos trabalhadores no activo gerar os resultados necessários para fazer face às futuras responsabilidades com pensões.
Sabendo-se também que habitualmente há uma tendência para que os níveis de satisfação (e a tal felicidade que tanto se fala) estejam inversamente relacionados com a antiguidade no trabalho activo, será muito provável que se assista a uma tendência para a definição de objectivos que aumentem o envolvimento dos trabalhadores de faixas etárias superiores, potenciando os seus níveis de satisfação (felicidade), motivação e desempenho.
Mas se é provável que a experiência passe a ser considerada uma mais-valia, que deve ser valorizada e potenciada, os mais novos, à procura do primeiro emprego, “terão que dar largas à imaginação”, aguçando o seu espírito de empreendedores.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A "Face Oculta" dos Aviões



Ainda os aviões estavam no ar e já corria no Porto o rumor que Lisboa iria tentar organizar a Red Bull Air Race em 2010. Na semana passada ficamos a saber que era verdade e que o irá, provavelmente migrar a Sul. É uma mudança lícita? Faz sentido numa lógica de desenvolvimento harmonizado do país?

Antes de mais, importa constatar um facto: as corridas organizadas no Porto são um sucesso completo. As margens do rio estiveram sempre cheias, a imagem da cidade, da região e do país saiu reforçada, assim como os seus produtos, serviços e gentes. O impacto sócio-cultural foi positivo e geraram-se milhares de empregos e muitas receitas directas e indirectas.

Alguns dirão que estamos num espaço concorrencial e que isso inclui a disputa, entre as cidades, pelos melhores eventos. Mas fará sentido ter essa "guerra" no mesmo país, perante um evento de projecção internacional e que tem sido um enorme sucesso? Ao que parece, Lisboa está a ganhar a corrida por apresentar patrocínios elevados, concedidos por empresas cuja gestão é, no mínimo, influenciada pelo Estado. A Galp, Edp e PT teriam a ganhar sensivelmente o mesmo se apoiassem o evento no Porto, Coimbra, Faro ou em outra cidade.

O que está a acontecer faz lembrar o mediático processo "Face Oculta". Alguém parece utilizar as suas influências junto de grandes empresas para atingir um objectivo anti-concorrencial. Que diferença há entre beneficiar uma empresa de sucatas ou uma cidade?

Estamos perante mais um reflexo de um país centralizado. Até as cimeiras e os tratados têm que acontecer na capital, nada sobra para as outras cidades. Mesmo o TGV já foi adiado a Norte.

Lisboa é um eucalipto que seca o país.

Concorrência? Não! O que temos é abuso de posição dominante.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Metro em 7 de Dezembro de 2009



sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Google, Amantes, Prostitutas e a Economia



Medir a evolução económica e social é controverso e exige novas abordagens. Apesar de o PIB ou o desemprego serem importantes, é pertinente ir por outros caminhos mais subjectivos, mas susceptíveis de serem mensuráveis, para avaliar a riqueza e performance.

Em termos de tendências, a Google tem criado ferramentas interessantes. Está disponível nos EUA o "Global Domestic Trends", que permite medir o interesse por um tema. Serve para conhecer quantas pesquisas foram feitas sobre construção, automóveis, desemprego, entre outros, permitindo conclusões sobre o que as pessoas pensam e que não é captado nos inquéritos formais.

Em Inglaterra, um site de encontros entre casados descobriu uma relação entre a bolsa e a procura por aventuras extra-matrimoniais. Quando a bolsa está em alta, a procura por um "affair" sobe, dados os níveis de confiança. Num "crash", também se regista um aumento, mas para aliviar a pressão: uma "fuga para a frente". Em períodos mornos, os casais tendem a não procurar outras pessoas. Na Letónia encontrou-se uma relação entre o que prostitutas cobram e o desempenho da economia. Antes de o PIB ou da inflação mostrarem uma queda abrupta, já os preços na rua tinha descido. Isto é um indicador avançado!

Claro que já existem alternativas ao PIB, como o IDH, o Coeficiente de Gini, entre outros. Mas, como defende o economista Stiglitz, é necessário medir o bem-estar e não só o que se produz. Não estranhemos se, um dia, for aceite a proposta de Sarkozy de incluir critérios de felicidade nas medidas da riqueza nacional. E, quando isso acontecer, em que lugar aparecerá Portugal?

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Metro em 4 de Dezembro de 2009