sexta-feira, 27 de maio de 2011

Amplificar



A CNE pediu a suspensão de um polémico tempo de antena do PND, no qual se compara Alberto João Jardim a alguns conhecidos ditadores e tiranos da História mundial.

Provavelmente, esse vídeo não irá mais para o ar no espaço eleitoral gratuito - que já "ninguém vê" - mas ganhou espaço em todos os telejornais e redes sociais.

No youtube o vídeo tem dezenas de milhares de visualizações, com a mensagem a chegar a mais pessoas do que qualquer outro tempo de antena.

Ou seja, foi a própria queixa junto da CNE, por parte dos que se consideram atingidos, que amplificou a mensagem.
Há que aprender com estes casos.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 27 de Maio de 2011

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Fugir ao problema



A Europa continua sem a determinação de abordar a questão da dívida soberana de uma forma institucional e vai "varrendo o lixo para debaixo do tapete".

As respostas passam por atirar dinheiro às dificuldades, sem resolver nem o problema do crescimento e sem alterar o sistema de governo da União Monetária. A construção do projecto europeu implica uma orientação mais federalista ou então um grande passo atrás.

A estratégia actual parece ser arrastar a situação para 2013, altura em que um novo sistema entrará em vigor (e em que muitos dos governantes já não estarão no poder...)

Mas isso não resolve o problema de base: como fazer com que os países europeus cresçam, sejam fiscalmente disciplinados e que a Europa seja cada vez mais uniforme em todas as suas dimensões.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 19 de Maio de 2011

Desvalorizar



Cada vez mais vozes pedem a saída de Portugal do euro com o argumento que isso permitiria desvalorizar a moeda e, dessa forma, tornar as exportações mais competitivas.

Sustentar a competitividade na desvalorização cambial é um ponto de vista retrógado e de quem está habituado às externalidades para fazer negócio.

Dito de outra forma, pedir uma moeda mais fraca é o mesmo que esperar um subsídio para poder sobreviver no mercado. Faz parte da tendência muito portuguesa, de sustentar a competitividade e a produtividade com base em custos baixos.

Deve apostar-se sim na capacidade de vender por outros atributos que não o preço. A estrutura de custos deve ser eficiente, mas não esmagada. Quem quer desvalorizar não quer, com certeza, ser melhor.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 20 de Maio de 2011

domingo, 15 de maio de 2011

Sociedade Ideal

É o aumento da população mundial e o crescimento dos mercados emergentes que mais tem contribuido para a subida do preço das matérias primas ou, pelo contrário, é o refugio na bolsa dos commodities agro-alimentares por parte dos grandes especuladores internacionais?

Independentemente das opiniões que existam, esta tendência está a gerar um problema de subsistência da industria agro-alimentar nacional. Para o resolver, há quem defenda (artigo de opinião IACA) a indexação dos preços das matérias primas aos contratos elaborados entre esta Indústria e a Grande Distribuição, uma vez que o reflexo de aumento no P.V.P. seria diminuto.

É defendido que com esta indexação a sociedade em geral poderia sair a ganhar: A industria agro alimentar, porque não comprometia a sua continuidade por questões meramente financeiras; A população, porque não via o seu emprego posto em causa; A grande distribuição, porque asseguraria a sustentabilidade dos seus fornecedores nacionais e manteria a dimensão e poder de compra do seu mercado.

É certo que com esta política da indexação viriam os adeptos da defesa do controle da inflação e de que os efeitos perniciosos para o mercado deste “imposto injusto” seriam ainda maiores. Será ? E o aumento do desemprego ? Nesta fase não será ainda mais crítico ?

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Mente sã



Quando se fala das grandes tendências em vigor, é quase sempre esquecido um comportamento que continua em franco e inédito crescimento: a prática de actividade física. Seja na rua, em ginásios ou noutros locais, é inédito o interesse e entusiasmo que os portugueses demonstram pelo desporto.

É excelente. Se houver o devido acompanhamento, a saúde agradece. Mas é na mente que os resultados são mais relevantes. Ao praticar desporto reservamos tempo para nós, organizamo-nos melhor e compreendemos que é possível chegar a objectivos aparentemente inalcançáveis, se trabalharmos para tal.

É bom, faz bem e é gratificante.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 13 de Maio de 2011

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Bastará a Ajuda Externa?

Apesar da ajuda externa ser uma boa notícia, preocupa-me o Futuro.

Continuo a não ver indícios de alterações que permitam antever uma evolução da maturidade democrática.

A democracia não é, por si só, o garante de uma sociedade próspera, justa e solidária; ou não teríamos chegado onde estamos. A Democracia tem subjacente uma infinidade de modelos de organização e relação do estado e da sociedade, mais ou menos permissivos à corrupção e/ou pressão de certos lóbis. Estes, por via dos políticos e demais intervenientes podem perverter a vontade dos eleitores.

Se não apostarmos na mudança que vença as debilidades da nossa Jovem Democracia, não bastará a ajuda externa para construirmos um Portugal melhor.

António Jorge

Marketeer e Docente Universitário

Publicado no Jornal Metro em 12Mai11

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Um fado agridoce

Foto: Luís Ferreira

Como bom rebanho somos eternos crentes, esperando pacientemente a salvação. Temos dificuldade em aceitar responsabilidades e, muito mais grave, em tomar mão do nosso destino. Os “outros” são a tábua da solução: paradoxalmente, ainda que a culpa seja sempre deles, serão eles que nos virão salvar.

Assim, a intervenção da famosa troika deixa um sabor agridoce: não foi o inferno anunciado, nem a redenção desejada. Com afinco e diligência cumpriu a sua missão: um plano de saneamento das contas públicas portuguesas. Não fora a atracção pelas minudências, poderíamos aproveitar este mote para regenerar Portugal.

Publicado no Jornal Metro em 11-Mai-2011

Conselho Consultivo



As melhores empresas e instituições têm um Conselho Consultivo. Trata-se de um conjunto de pessoas convidadas a dar conselhos e orientações.

Normalmente são indivíduos experientes e com competências relevantes. Para que os conselhos sejam imparciais, opta-se por quem não tenha interesses directos, nem nas instituições, nem nos assuntos a debater.

Faz todo o sentido cada um de nós ter o seu conselho consultivo. Não se trata de pedir opiniões, invariavelmente aos mesmos amigos. Importa escolher, dentro da rede de contactos e em função da confiança e competências, as pessoas mais indicadas para um determinado assunto. Vale a pena contar com as opiniões dos outros de forma sistemática. A melhor ideia raramente é a primeira.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 10 de Maio de 2011

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Temos um Plano!



É prematuro fazer um balanço completo do acordo entre Portugal e a troika. Mas pode já dizer-se que é positivo que Portugal não tenha sido forçado a “misturar” o Fundo de Estabilização da Segurança Social com os dinheiros do Estado e que os subsídios de Natal e de Férias não tenham sido cortados.

Mas o que merece destaque é que, aparentemente, Portugal passa a ter um plano de actuação estruturado para o médio prazo, algo de inédito nas últimas décadas.

O plano inclui política fiscal, regulação e supervisão financeira e estratégias para os orçamentos, privatizações, sistema de Saúde, PPP's, administração e empresas públicas.

Ter um plano é mais que meio caminho andado para se conseguir chegar a um futuro melhor.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no jornal Metro em 6 de Maio de 2011

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Outsourcing de política

Supostamente, a troika veio para resolver o mais urgente e global dos problemas da economia portuguesa: o sistemático défice orçamental. Ironicamente, vai iniciar um conjunto de medidas que atacam o mais importante dos problemas: a falta de competitividade - o problema estrutural.
Se se confirmar que o plano vai incluir aumento da liberalização em sectores protegidos como a energia ou comércio de fármacos, alterações na celeridade da justiça e liberalização da legislação de trabalho, pode ser que toda esta crise orçamental tenha vindo por bem, para Portugal poder fazer outsourcing de política.