terça-feira, 1 de junho de 2010

"Decoupling" à portugesa

A palavra "decoupling" tem sido utilizada nos últimos anos para descrever a capacidade de os países emergentes já não dependerem das economias ocidentais para crescer. Em termos mais genéricos, o "decoupling" refere-se à quebra da ligação entre uma variável dependente e a sua causa provável.

Em Portugal, a evolução positiva que se tem registado nos indicadores de confiança das empresas e no volume de produção da indústria contrasta com o pessimismo crescente das famílias. Estaremos perante um "decoupling" à portuguesa, em que a uma maior actividade empresarial não corresponde mais emprego e confiança das famílias? No longo prazo é pouco provável que os dois agregados possam caminhar de forma separada, mas é fácil compreender as diferenças actualmente observadas.

As famílias encontram-se pressionadas há vários meses, sensíveis às más notícias: economia anémica, desemprego em alta, medidas de consolidação orçamental (incluindo aumento de impostos), situação política instável e alguma desconfiança no sistema financeiro. As empresas não são imunes ao mesmo contexto, mas a sua veia exportadora tem-lhes permitido navegar por mares de maior optimismo, pelo menos por agora.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Artigo publicado no Diário Económico em 1 de Junho de 2010 (pág. 14)


Sem comentários: