sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Livros a Quilo

Há quem diga que não há coincidências. Suspeito que só podem ter razão. Os últimos livros que me passaram pelas mãos têm sempre cerca de 270 páginas. (Inside Steve’s Brain, 264;A Lógica Oculta da Vida 265;Blue Ocean,262;Wikinomics,289;The Future of Management,265; Blink, 276). Parece coincidência, mas não é.
Há uma ideia subjacente ao livro, uma mensagem que se pretende passar (new stream), cujo valor é elevado, sobretudo o ROI por página apreendida. Depois, estica-se a ideia com explanações diversas e comentários avulsos ou métodos de implementação teóricos (side stuff), em mais 150 páginas, num tortuoso processo que pretende aparentemente justificar o preço de capa dos livros. Nestes livros de gestão parece que há um número mínimo de páginas a cumprir para estar no modelo “best seller”, o que constitui um formato muito pouco racional sobre o valor que se extrai de cada obra – a decisão das editoras de pressionar autores a um conceito ao quilo não é contudo a causa, mas a consequência do comportamento dos leitores no seu ciclo de compra.
Relembro os ensinamentos de Kim&Mauborgne: “inovação sem valor são pioneirismos com baixo valor agregado”. Muitas empresas, como estas editoras, procuram a inovação pela inovação, e não pelo valor, e acabam por serultrapassadas pelos “Fast Second´s” do seu mercado.
Quanto a mim, aprendi a ler com toda a atenção as primeiras 70 a 100 páginas e construir um modelo de leitura diagonal para as restantes, corrigindo a deficiência criada artificialmente pelas editoras, para modelizar os livros ao formato que mais vende, como se o nosso tempo lhes pertencesse.
Publicado no Jornal Meia-Hora a 14 de Novembro 2008

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