sexta-feira, 29 de outubro de 2010

As horas da justiça

Convocatória para um julgamento às 14h. Início às 14h40. Às 16h30 o tribunal adia por um mês a audição de duas testemunhas, que lá permaneciam desde as 14h, e chama a primeira testemunha. São entretanto 17h30 e o tribunal volta a adiar por um mês o depoimento de mais uma testemunha, uma vez que os serviços encerram às 17h.
Esta situação real na justiça, tem paralelo em muitos outros sectores e demonstra falta de organização. Os nossos processos de tomada de decisão falham no tempo, na forma e demasiadas vezes no conteúdo. O resultado final só pode ser a inépcia.

Retrocesso



Nos anos 70 a propaganda política era feita através de murais, muitas vezes verdadeiras obras de arte que povoavam o imaginário de todos. Pintar os muros era a forma possível de comunicação de massas, embora muitas vezes resvalasse para o mero vandalismo. Os anos 80 trouxeram o cartaz, invadindo indiscriminadamente as paredes, muros, casas e até automóveis. Em ambos os casos as campanhas eleitorais - efémeras por natureza - resistiam por demasiado tempo, poluindo o país de várias formas.

As duas décadas seguintes trouxeram, felizmente, mais civismo, maturidade e preocupações estéticas na propaganda partidária. Mas, na era das redes sociais, dos smartphones e dos mass media para lá de maduros, ainda há quem pinte mensagens sobre a próxima greve geral nas paredes das cidades. Que lástima, que vandalismo, que retrocesso.
Nota: a foto acima não é actual.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 27 de Outubro de 2010

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

É preciso ter calma



A impossibilidade de se chegar a um acordo relativamente ao orçamento de 2011 em Portugal merece alguma atenção e obriga a focar no que é importante.

Não obstante a questão orçamental poder levar também a uma crise política, parece-nos que há algum dramatismo e exagero na forma como a questão está a ser tratada, nomeadamente pelos media e nas “conversas de bastidores”. É relativamente comum assistir a impasses orçamentais e a crises políticas em todo o mundo, sem que daí surjam situações dramáticas para os agentes económicos. Não pretendemos desvalorizar o actual momento económico-financeiro do país, mas as empresas devem tentar focar no seu negócio e tomar decisões sem se deixar envolver por um clima demasiadamente “quente” e até emotivo.

Na minha opinião, a economia portuguesa, nomeadamente o seu sistema financeiro, estiveram bem mais em risco no final de 2008 e no início de 2009 do que agora. Mais do que isso, os clientes de Portugal estão hoje em crescimento e não em recessão ou em “choque” como nessa altura. A eventualidade de uma intervenção do FMI (apenas um dos cenários para já) nem seria catastrófica para as empresas.

Esta é uma crise inevitável do Estado português, após muitos anos de défices e de endividamento externo. Há vasos comunicantes, mas é muito mais uma crise do Estado que uma crise do país e ainda menos uma crise das empresas, que deverão continuar a monitorizar as suas condições de negócio como até aqui, sem se deixar influenciar em demasia pelo frenesim que beneficia sobretudo os media e alguns sectores políticos.

Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros


terça-feira, 26 de outubro de 2010

Next Best

No actual ambiente de contenção, o aspiracional e o desejo, em vez de perderem força, ganham nova e mais relevante dimensão. É neste cenário que cada vez menos há espaço para produtos médios e soluções médias. Há espaço – e sempre haverá - para o melhor em tudo, (a um preço aceitável) e a nova tendência é um grande espaço para o next best – algo muito parecido com o “best”, sem ser best. Adoptado pelas empresas “fast second”, o next best permite aos consumidores terem algo muito parecido com o desejável, pouco depois, mas a cerca de metade do preço. O cliente avatar agradece!

domingo, 24 de outubro de 2010

A colher o que semeamos

Os êxitos que Portugal tem alcançado na diplomacia da política externa e que culminam na recente eleição para o Conselho de Segurança da ONU, têm sido amplamente reconhecidos.

O mérito é dos diplomatas e governantes, que ao longo dos anos têm vindo a construir uma imagem de um país tolerante, agregador para com as minorias e interventivo nas acções de paz espalhadas pelo mundo.

Falhamos porém na construção de uma imagem de um país sem risco, com um baixo nível de corrupção, uma gestão financeira sã, uma legislação credível e uma política fiscal estável.

Sem este trabalho bem feito, nada valeram as acções da diplomacia económica junto do mercado financiador e investidor, e que agora em plena crise nos “tiram o tapete”.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Arbitragens



Em 2005 Levitt e Dubner escreveram "Freakonomics", que terá vendido mais de 4 milhões de exemplares. A mensagem do livro é simples: as pessoas respondem a incentivos.

Isto a propósito da proposta do Orçamento de Estado para 2011, que pode incentivar comportamentos "interessantes". Com o IRC a 25%, o IVA a 23%, IRS e Segurança Social a subir é lícito perguntar que incentivo haverá para as empresas continuarem a facturar face à alternativa de um pronto pagamento informal.

Este incentivo é ainda maior se o prestador do serviço ou mercadoria for um trabalhador independente. Por outro lado, os "salários" em dinheiro são cada vez mais interessantes para empregador e empregado.


Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 22 de Outubro de 2010


quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Moda PT

Está a terminar o ciclo dos três maiores eventos de moda em Portugal. O Moda Lisboa primeiro, o Portugal Fashion depois e esta semana a Winter Fashion Week, também no Grande Porto. Há alguns anos que Portugal se tem afirmado na moda muito perto dos maiores clusters mundiais.
Tendo em conta que a aposta em design, diferenciação e valor acrescentado é o caminho óbvio para um país e sector que saíram da zona de subcontratação, este resultado é relevante. Falta agora sustentar a ligação com marcas nacionais que se possam afirmar de forma sustentada no mercado global.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

África Dela

Um contacto numa Sexta Feira, convenientemente depois das 18H, para um convite alegadamente irrecusável: uma oportunidade única em África, para ficar de oito a dez anos, tão bem paga que permitia passar à pré reforma directamente. Inadvertidamente, piscou os olhos… Teria ela pedido para abdicar de viver a minha vida actual? Suplicara a alguém para ganhar mais?
Quererá sequer uma pré reforma? Num mundo plano, a deslocalização começa a ser um factor tão commodity que o executive search o assume como semi obrigatório. A verdade é que compete com outros valores que para alguns ainda são prioritários…

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Banca em acção

A reforma de regulação financeira vai ter impacto na actividade dos Bancos em geral, mas há três claras implicações que algumas Instituições já estão a tentar ultrapassar.

No aumento da despesa, tentam resolver a questão através da redução dos custos do serviço e no aproveitamento dos seus pontos de venda para alavancar o negócio; Na pressão sobre as receitas, anunciam novos produtos e lançam uma nova estratégia de preço; Na diminuição dos lucros, concentram-se em transparência, responsabilidade e justiça.

O dinamismo habitual do sector bancário já está em campo e será interessante acompanhar o resultado final das suas acções.

sábado, 16 de outubro de 2010

Devemos encantar os clientes?


De acordo com o senso comum, os clientes são fieis às empresas que os encantam ou seja, que conseguem surpreender, excedendo as expectativas. Esta perspectiva é ensinada na generalidade das escolas de gestão, mas está a ser posta em causa por estudo elaborado pelo Corporate Executive Board nos EUA, citado na HBR.

De acordo com os resultados, encantar o cliente incrementa apenas marginalmente a fidelização. O que a aumenta é resolver os seus problemas de forma consistente e reduzir o esforço do cliente. O impulso para castigar a empresa por mau serviço é muito mais forte do que o de recompensar as performances excelentes. Back to Basics?.


(Este é o "post" número 500 do Mercado Puro. Parabéns a todos!

Filipe Garcia
Publicado no jornal Metro em 15 de Outubro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Tempo de fazer o mea culpa

Com maior ou menor dificuldade temos conseguido ultrapassar os obstáculos do presente, mas sem preparar bem o futuro. Individualmente, vivemos de uma forma que prejudica as gerações futuras e sempre à espera do paternalismo do Estado. Somos pouco responsáveis na poupança, não garantindo a nossa sustentabilidade financeira, e não estudamos regularmente, abdicando de ajustar as nossas habilitações às necessidades dinâmicas do mercado. Colectivamente, o Estado vai muito para além de assegurar os recursos básicos e não se concentra na arte de legislar, e as Empresas, não asseguram a inclusão dos trabalhadores seniores. Está na hora de agir e não ficarmos à espera de milagres.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

InGestão Pública

O Banco de Portugal veio culpar a função pública pela fraca produtividade do país, essencialmente porque “ganham demais para o que produzem”. Na minha opinião, eles não ganham demais, produzem é de menos, porque são em número excessivo, culpa alheia aos mesmos. A sua produtividade é baixa porque o modelo de sistema de incentivos é para lá de mau: é péssimo.
No PEC3, cortam-se os prémios e as promoções, conseguindo-se assim piorar ainda mais a produtividade: face ao desespero do curto prazo comprometeu-se o longo, dando o pior exemplo de gestão possível.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mercado Ibérico Único

Abolir o roamming nas comunicações entre Portugal e Espanha poderá vir a facilitar a vida das muitas empresas que operam conjuntamente nos dois lados da fronteira. E são já demasiadas nessa situação para que se possa ignorar o que esta e outras medidas análogas poderão trazer de positivo. Para Portugal a possibilidade de alargar o seu mercado de acção para o país vizinho é, mais do que uma boa oportunidade, uma necessidade extrema.

Pedro Tuna

Publicado no Jornal Metro em 7 de Outubro de 2010

Mercado Puro Internacional

500 posts e três anos depois da sua nascença, o Mercado Puro continua a ter um tráfego constante, sem grandes subidas nem relevantes descidas no tráfego ao longo dos dias, das semanas e dos meses.
Importante é dizer que cada vez mais se trata de um blogue multinacional, não só nos membros da sua equipa, como também nos seus visitantes. Na análise mensal homóloga, e pela primeira vez desde sempre, Portugal soma menos de 50% das visitas. É sobretudo do Brasil, Estados Unidos e Canadá que surgem as visitas, mas também de Espanha, Itália e Coreia do Sul.
O Mercado Puro é publicado 4 vezes por semana no Jornal Metro e constitui um dos mais antigos projecto syndicate em Portugal.

sábado, 9 de outubro de 2010

Constrangimentos

No universo dos países da OCDE, Portugal apresenta um dos maiores índices de restritividade da legislação laboral, com o maior índice de número de “contratos sem termo” e um dos menores índices nos “despedimentos”.

De acordo com o World Economic Forum, este factor é destacadamente o segundo maior problema ao desenvolvimento dos negócios em Portugal. Ligeiramente superior a este factor, só mesmo a burocracia e ineficiência governamental. A política de impostos, a regulamentação fiscal e as inadequadas habilitações das forças de trabalho, merecem igualmente destaque.

Estes problemas são reais, mas ano após ano a opinião do mercado mantem a estatítica ou seja, os problemas estão por resolver e continuamos desfocados do essencial.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Porque sobe o euro?



O euro encontra-se no valor mais alto desde Fevereiro, recuperando as perdas associadas à crise da dívida soberana.
É provável que a China esteja na origem deste movimento, comprando euros e obrigações de países como a Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha.
Com esta estratégia a China desvaloriza ainda mais a sua moeda e pode estar a tornar refém a própria zona euro.
Se acumular obrigações suficientes, a China poderá ameaçar vendê-las e ter os europeus nas mãos, como já acontece face aos Estados Unidos.


Filipe Garcia
Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no jornal Metro em 8 de Outubro de 2010


quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Shiuuuu !

“Não se pode dizer mencionar marcas”, segredava esta semana uma voz feminina na M80. Nos 104.1 da RFM falava-se no tráfego junto ao hipermercado, como se houvesse apenas um, e nas três letrinhas da TSF mencionava-se o centro comercial para evitar a marca Colombo.
Já não bastava o resto do país ter de adivinhar que se fala de Lisboa, para termos todos de ficar sem perceber bem o que nos dizem só pela estilo provinciano e bacoco de evitar marcas.
Salva-se a Escola Alemã (de Lisboa, ora então), que deve ser uma espécie de instituição neutra, porque ainda não é anunciante. Só por isso…