terça-feira, 30 de junho de 2009

Portugal precisa de um novo Estudo Porter

Mais de uma década após o Estudo Estratégico sobre a Economia Portuguesa, efectuado por Michael Porter; Portugal necessita reequacionar as suas vantagens competitivas e seu papel no Mundo. O desenvolvimento económico português depende essencialmente da sua capacidade de exportar e internacionalizar as suas empresas; hoje num contexto Internacional radicalmente alterado, que torna obvia a necessidade de repensar. O Estudo Porter permitiu posicionamento estratégico, captação de investimento, cooperação empresarial e desenvolvimento sectorial. Este tipo de estudos contribui ainda para uma dinâmica social, há muito ausente de Portugal. A sua ampla discussão na sociedade civil, nas empresas, nos media e na politica, centra o debate do futuro do País nas oportunidades concretas e na eliminação de debilidades estruturais e; por consequência, dá foco e visão há população, determina horizontes e galvaniza esforços. Actualmente, o Mundo procura criar a nova ordem financeira mundial, as empresas debatem-se com excesso de capacidade instalada, os Países procuram desenvolvimento através de projectos que permitam encontrar ideias inovadoras, geradoras de novas necessidades e oportunidades, como por exemplo, viver na Lua, utilizar viaturas eléctricas ou construir cidades auto-sustentáveis.
E Portugal? Que sectores devem ser revalidados e quais devem ser objecto de desinvestimento? Haverá novos? Que lacunas estruturais tem o País? Recorramos a especialistas para obter as respostas, pois certamente não as encontraremos no efémero discurso político.
António Jorge Consultor em Estratégia Marketing e Vendas
Publicado no Jornal "Meia-Hora" em 30-Jun-09

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Vícios públicos, virtudes privadas?

Distraídos com as vias para desatar a crise – entre obras públicas e controlo do deficit – somos abalados por uma perversa mescla das esferas pública e privada da economia.
Já deveríamos estar avisados que quando o Estado brinca ao mercado não se sai muito bem. Ilustrativo tem sido o exemplo da PT: quer na OPA da Sonae, quer agora na compra de parte da Media Capital, o Estado sai chamuscado, evidenciando clamorosos erros de sentido e tacto. Noutro capítulo, a dura lição de que o mercado sozinho tem dificuldade em se disciplinar é bastante evidenciada pelos recentes factos do caos em que o BCP se transformou.
O que resulta daqui? Parece que nem vícios públicos nem virtudes privadas se recomendam em excesso, mormente quando são ampliados pela confusão sobre o papel de cada um na economia. Ao Estado competirá sobretudo regular e fiscalizar, enquanto aos privados empreender e gerir; nem aquele é bom em iniciativas empresariais, nem estes na regulação do mercado.
Encontraremos na fragmentação do poder, que alguns patrocinam, a resolução desta tensão? Parece ser resposta frágil. Pelo contrário, jogos de poder – na disputa leal, transparente e ética entre diferentes forças que, conscientes das funções, procuram ocupar devidamente o seu espaço – podem gerar equilíbrios dinâmicos. Ou seja, é do efectivo confronto (poder/ contra-poder) que nasce o progresso, num permanente encontro de vícios e virtudes que demanda muito mais pensamento estratégico que promiscuidade.
Publicado no Jornal "Meia-Hora" em 29-Jun-2009.

Harvard Trends #9 - Web 3.0

Desde que Berners-Lee (criador da WWW) presidiu ao W3C que tem procurado potenciar uma Web mais eficaz, onde as procuras resultem mais rapidamente em valor. Curiosamente, na Web 2.0, foi o Google e a Wikipedia que aceleraram a eficácia na procura, tanto em rapidez como em qualidade dos resultados.
Enquanto a Web 2.0 se expande rapidamente, com redes sociais, comunidades virtuais e datafeeds, Harvard tem acompanhado de perto o nascimento e crescimento de todo um novo formato Web, que revolucionará a forma como cada um interage com a Internet : a Web 3.0!
A Web Semântica (3.0) não se centrará em documentos, como faz a versão actual, mas em conteúdos que estão referenciados com determinado tema. As relações serão asseguradas directamente entre os dados não só dentro de um documento, como em toda a Web. As procuras deixarão de ter como resultados milhares de ficheiros, mas assemblagens de partes de documentos só na parte do conteúdo desejado, um aumento drástico de eficácia entre tempo investido e resultado obtido.
Em causa ficam motores de busca e todos os modelos que destes dependem directamente, quase tora a Web actual. O desafio nos próximos três a cinco anos é saber migrar para a nova plataforma no day one.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

A nova febre do ouro



O ouro fascina o Homem desde sempre, levando a exageros e a movimentos de massas. Os preços do ouro estão a subir mais de 35% desde Outubro, tendo já estado em alta de quase 50% quando, em Fevereiro, atingiu a cotação de 1000 dólares por onça. Num prazo mais longo a valorização é ainda mais impressionante, com o metal precioso a triplicar de preço desde 2001. Esta febre do ouro fará sentido?

A subida de preços dos últimos meses pode explicar-se por três razões: grande influxo de dinheiro que regressou aos fundos de matérias primas, descida do dólar e procura de activos de refúgio num contexto de crise. Os argumentos a favor do ouro já se tornaram populares a ponto de serem discutidos em qualquer café ou conversa de amigos, o que é, no mínimo, um sinal de alerta. Mas qual a sustentabilidade desta subida? Não será uma nova "bolha" especulativa?

Olhando para as estatísticas mais recentes do World Gold Council verifica-se que o consumo de ouro para joalharia caiu 24% no primeiro trimestre do ano, em termos homólogos. A utilização do metal na indústria caiu 31% no mesmo período. Em 2008 já se tinha registado uma queda, embora inferior a 10%, face ao ano anterior. Já o investimento em ouro "físico" disparou 248% e sob a forma de activos financeiros subiu uns impensáveis 540%!

Há dois anos o investimento em ouro há representava 25% da procura total, mas representou nos primeiros três meses de 2009 essa valor já era superior a 60% do mercado. Bastará que o interesse investidor se atenue para que os preços caiam a pique.


Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros
Publicado no Jornal Meia Hora de 26 de Junho de 2009


quinta-feira, 25 de junho de 2009

O respeito enquanto marketing

Os entendidos das ciências humanas dirão que o respeito é uma das bases para qualquer relacionamento bem sucedido. Podemos comprovar-lo a ao observar dois dos ícones do rock alternativo dos anos 90, Trent Reznor (Nine Inch Nails) e Billy Corgan (Smashing Pumpkins).

Reznor é visto como uma das faces do futuro da indústria. Para ele os fãs são e serão uma peça "chave". Lançou um site onde os seus seguidores podem fazer as suas próprias remisturas, ofereceu um álbum completo, bem como centenas de gravações para que os fãs possam construir o seu próprio DVD ao vivo. O resultado é que apesar de estar já longe da popularidade que o fez um dos "homens do ano" para a Time em 1997, um dos seus últimos lançamentos (um álbum instrumental de 4 CDs, o primeiro dos quais disponibilizado livremente) esgotou a edição limitada de 300 Dólares em poucas horas. Numa semana já tinha vendido perto dos 1.6 milhões de Dólares.

Corgan perdeu o respeito dos fãs. Depois de várias alterações nos membros da banda e outras polémicas, o último álbum foi um fracasso comercial. Corgan, agora o único membro original dos Smashing Pumpkins para desagrado de muitos fãs, já anunciou a sua intenção de se dedicar apenas a singles, não sem antes afundar o resto da sua credibilidade ao apoiar à fusão Ticketmaster/LiveNation e ao anunciar um serviço pago com material que a maior parte dos músicos disponibiliza livremente.

Embora não seja tão fundamental como a qualidade do trabalho, estender a mão aos fãs um músico pode conseguir o seu respeito e assim fazê-los pensar que talvez mereça uma compra.


Luís Silva
Crítico musical

Publicado no Jornal Meia Hora de 25 de Junho de 2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Puramente #22 - A Geografia das Compras

Nome: A Geografia das Compras
Autor: Paco Underhill
Data Original: Dezembro 2004
Frase: "Ao estudar o centro comercial podemos aprender bastante sobre nós próprios."
Keywords: centro comercial; retalho; design de lojas; distribuição; serviço; mix comercial;
Apreciação: ***
Editado originalmente nos Estados Unidos em 2004, na sequência do sucesso de vendas que foi “A Ciência das Compras”, este livro - de Paco Underhhill - teve tradução em lingua portuguesa em 2009 . Trata-se de uma obra que está destinada a todos os técnicos gestores ou curiosos que pretendam apreender sobre o local onde são realizadas as trocas comerciais: lojas, armazéns e sobretudo centros comerciais.
Os capítulos são uma simulação do que consiste uma visita a um centro comercial, numa óptica de estudo comportamental dos seus visitantes e de técnicas dos que gerem os espaços comerciais e unidades de retalho especializado. A importância do parque de estacionamento, da segurança, da manutenção ou da limpeza são sublinhadas, em paralelo com a necessidade de uma gestão menos imobiliária e mais comercial. De certa forma, os gestores portugueses de centros comerciais não aprenderão tanto como os de outros países com este livro, dado que neste sector Portugal é um standard internacional de liderança – como refere o próprio livro, com várias referências ao Vasco da Gama e ao Colombo.
Enquanto explicita e deambula sobre temáticas de valor apenas para o cluster, Paco Underhill não deixa de se questionar sobre o que acontecerá à enorme massa de centros comerciais que em breve terão mais de 20 anos, uma questão incontornável não só do comércio americano, como também da própria sociedade – famílias, bairros, emigrantes e demais flutuações que dependem destes gigantes do comércio.
Num livro que vale a pena para quem se preocupa com o tema, mas está muito longe de ser obrigatório, o autor termina perguntando se não será o centro demasiado hermético e assim um fiasco ameaçado por soluções mais convenientes e apetecíveis.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Subsídios Imorais

Parece quase um lugar comum afirmar que o desemprego é, nesta altura, o mais importante dos índices, sobretudo pela relevante correlação com o consumo interno privado, que tem a importância que se conhece. A subir de forma quase descontrolada e com previsões de agravamento em 2010 o desemprego, como qualquer regulação, tem um lado de grande promiscuidade, que convém suster, em particular no presente momento.
A questão que se põe é: o que fazem esses milhares de portugueses que usufruem do fundo de desemprego ou rendimento social de inserção? Uns não fazem nada, outros fazem trabalhos não declarados e uma minoria procura efectivamente emprego. É esta a realidade de um país que trata melhor os que não contribuem do que aqueles que geram valor para a Nação, para a economia e para os fundos que alimentam os “não inseridos”. Numa sociedade madura e onde se espera que as pessoas não fujam ao pagamento dos seus impostos, torna-se vital um processo de transparência para os que recebem esses rendimentos.
Nomeadamente, proponho que os receptores de subsídios de desemprego façam trabalhos de importância marginal para o Estado e que de outra forma não seriam feitos, mas que lhes ocupem o tempo e criem algum valor, devolvendo moralidade ao sistema. Impõe-se ainda a criação de um sistema de controle em toda a linha, sobretudo na aceitação de novas propostas de trabalho. Um sistema de “cliente mistério” resolveria parte das situações, reduzindo os encargos que o Estado paga todos os meses a quem não quer trabalhar e criando espaço para os que efectivamente procuram um novo rumo para a sua vida.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

De retalhar o passado a inventar o Futuro

As revoluções tecnológicas que se têm vindo a assistir nas últimas décadas e que têm tido impactos impressionantes no modo de vida das pessoas não tiveram, salvo em raras excepções, um reflexo de igual dimensão nas estruturas públicas e nas empresas privadas.

Um exemplo dessa mudança são as comunidades virtuais online, onde os jovens de hoje se movimentam com total à vontade, permitindo-lhes uma ligação à sua rede de contactos (quase) grátis e 24 horas por dia.

Num momento em que que se questiona e analisa a educação que queremos dar às novas gerações, verificamos que estamos na presença de tecnologias que há 10 anos não existiam. Olhando para a forma como a Educação está a caminhar em Portugal teremos que nos perguntar: até que ponto não será esta parecida com aquela que eu próprio tive, onde os telemóveis e as comunidades virtuais faziam parte de um futuro ainda por inventar? E até que ponto será ela hoje radicalmente diferente do modelo de educação que os meus pais tiveram?

Note-se que esta realidade não se aplica apenas à Educação, aplicando-se também à Saúde, à Justiça, à Política ou em tantos outros sectores onde o futuro tem vindo a ser construído com remendos ao passado e com soluções baseadas na história e na pesada herança que arrastamos.

Para mudar, antes demais é necessário um forte desejo de mudança que não será possível se não se considerar a mudança como necessária (o que me parece óbvio no caso de Portugal e para os Portugueses que o vivem e constroem).

Para tal teremos que ser capazes de olhar o país e o mundo com outros olhos ou pelo menos através de umas lentes que nos permitam inventar e criar um novo futuro, e não apenas remediar o passado ou copiar realidades que não se adequam à nossa.

E porque não começar por mudar radicalmente a forma de como a Educação é feita em Portugal? Não só aproveitando a tecnologia disponível e que começa já a fazer parte do passado mas indo ainda mais longe escrevendo páginas de um futuro ainda por inventar.

Teremos que em conjunto inventar um novo futuro para Portugal e para os Portugueses, sem ficar à espera que o destino ou alguém o faça por nós. Obviamente muitos dirão que é uma loucura. Mas qual será a loucura maior? A daquele que julga que pode mudar o mundo ou a de quem para ele olha e nada tenta mudar?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

O novo paradigma da consultoria financeira

Nos últimos meses temos vindo a assistir a uma profunda crise financeira que está a provocar mudanças significativas na forma como se está a oferecer produtos financeiros ao mercado. Neste cenário, a consultoria financeira está também a evoluir e tem um papel fundamental a desempenhar como um importante agente do mercado financeiro. O peso estrutural do canal clássico que representa o retalho bancário, tem diminuído relativamente ao surgimento de outros canais alternativos, nomeadamente a Internet. Por outro lado, a pressão da optimização dos resultados em face da diminuição da margem de intermediação financeira, tem conduzido a uma redução global dos custos operacionais das Instituições Financeiras. Este emagrecimento dos custos reflecte-se sobretudo numa maior dificuldade na prestação de um serviço personalizado aos seus clientes. Esta área de actividade tem permitido, desde então, sobretudo na área do crédito oferecer um serviço de aconselhamento financeiro independente e muito mais amplo que aquele que é facultado por um banco ou financeira. Isto para além de ser um serviço mais personalizado e próximo do cliente final, sem o estigma de estar a negociar com uma Instituição Financeira, numa luta negocial muito desequilibrada. A sua posição de charneira entre as Instituições Financeiras e quem acede aos seus produtos, aliado à independência e especialização da sua actividade, concorre para que os particulares e as empresas procurem estes profissionais para encontrar, não apenas a melhor solução de financiamento, mas fundamentalmente, um serviço financeiro integrado que lhes permita obter uma solução personalizada e adequada às suas necessidade actuais em consonância com as suas perspectiva de futuro.
--Publicada por António Godinho em Mercado Puro a 6/18/2009 01:50 AM

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Harvard Trends #8 - Neuroplasticidade

Uma descoberta recente na área da neurologia tem despertado particular interesse entre estudantes e professores de Harvard. Trata-se de uma discussão em torno da capacidade de inteligência, enquanto factor de criação de informação célere e acertada para a melhor tomada de decisão, bem assim como na sua correlação com a criatividade. Apesar de fenómenos da vida real sugerirem que as pessoas mais activas mentalmente exercitavam mais o cérebro e assim tinham maior capacidade intelectual do que as demais, a ciência postulava que uma parte importante dos neurónios morriam depois da adolescência. Agora a mesma ciência prova que estímulos naturais desencadeados a pedido do cérebro criam novas séries de neurónios – a nova buzzword chama-se neuroplasticidade.
Num outro registo, a importância desta descoberta encontra-se no fenómeno que maximiza este efeito de dinâmica cerebral – a saída da rotina para interesses altamente desafiantes. É neste contexto que pela primeira vez se sugere de forma racional e apoiada que tem melhores condições os gestores quando não se centram apenas nos seus trabalhos, famílias e rotinas, mas também em outras paixões, que desafiem o seu intelecto a ir mais longe, fazer diferentee adaptar-se constantemente.

terça-feira, 16 de junho de 2009

A necessária partilha de esforços

O Dia Mundial do Ambiente (5 de Junho) fica este ano marcado na agenda das acções para o combate às alterações climáticas.
O Ministério do Ambiente lançou uma plataforma online com disponibilização de informação sobre o cumprimento dos objectivos nacionais definidos no Protocolo de Quioto (http://www.cumprirquioto.pt/). Também neste dia foram publicadas no Jornal Oficial das Comunidades quatro directivas comunitárias que servirão de base para a implementação do pacote “Energia e Clima” da União Europeia. Tratam-se sem dúvida de mais “ferramentas” que apoiarão o País e a UE a concretizar a sua política energética e de combate às alterações climáticas.
No entanto, uma semana depois, as notícias internacionais nesta matéria não são tão decisivas. Em Bona, a 12 de Junho, terminaram de forma inconclusiva duas semanas de negociações com vista à preparação de um acordo, sucedâneo do Protocolo de Quioto, que será concretizado em Dezembro em Copenhaga. Os 183 países não chegaram a acordo sobre a partilha de esforço na redução das emissões de gases com efeito de estufa. Porquê? Porque o próximo acordo global obrigará a uma participação activa de todos os grandes emissores, quer eles sejam países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Todos os países sabem da urgência em limitar as emissões de gases com efeito de estufa, mas existe preocupação sobre o seu impacto nas economias nacionais.
Certo é que quaisquer decisões a serem tomadas sobre este assunto terão reflexo na regulamentação aplicável às empresas, mas também, e cada vez mais, nos nossos hábitos de consumo e na nossa vida quotidiana.
Publicado dia 16 de Junho no Jornal Meia-Hora

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Piratas e Falsários

O costume, é verdade, tem servido de escusa a muitos disparates e excepções. O hábito e a tradição, não raramente, abafam o argumento e a razão. Se cá estivessem os avós que com suposição nada mais do que egocêntrica tradição dizem querer respeitar, nada mais soltariam do que um lamento. Um lento e agoniado lamento.
Em tempo de Internet a 100 Mbps e neuroplasticidade, os portugueses convivem tranquilamente com o que se passa todas as semanas, todos os dias, nas feiras.
Pior, fazem-no sem o mais ténue sentido de critica ou, ainda menos, culpa. Refiro-me não à venda legal de artigos que complementam o comércio tradicional, mas à enorme e revoltante malga de ilegalidades que se pratica nas feiras. Desde logo, porque a factura como documento é quase sempre uma miragem e o IVA um insulto. É grave, mas é pouco quando se compara com a óbvia contrafacção de marcas, digna de países como poderia ser o Sudão ou o Congo Francês. A cereja no topo do bolo é o policiamento, pago por todos os contribuintes, por aquelas mesmas unidades que o MAI insiste em cobrar em recintos desportivos e outros espectáculos. Em nome de um comércio desleal mas policiado, supremo da ironia.
Uma palavra também para as “vendas de alimentos” das feiras. Numa loja de rua, aqueles espaços duravam pouco tempo. Num centro comercial duravam um dia ou dois. Na feira, só falta serem elogiados. Muitas vezes sem as mínimas condições para operar dentro dos limites de higiene e segurança, oferecem “produtos tradicionais” que aumentam desnecessariamente o risco alimentar.
Quando mais tempo precisam os portugueses de perceber que estas ilegalidades retiram valor, pilham o orçamento do Estado e surripiam emprego legal? Quanto mais tempo precisam as autoridades para regular devidamente estes espaços e controlar falsários e piratas?

domingo, 14 de junho de 2009

Harvard Trends #7 - Humble Bee

Desde há algum tempo que existem em Harvard inúmeras discussões, trabalhos, e frameworks para testar a maximização da utilidade das redes sociais no ambiente empresarial, nomeadamente as que se centram no ambiente Web 2.0, como o LinkedIn, Twitter, Facebook ou Myspace.
A corrente dominante apoia o método Humble Bee - as abelhas organizam-se enviando “escuteiros” à procura de espaços para captação de pólen, e num momento seguinte enviam grupos de teste que confirmam, através de uma dança, os melhores locais, e na sequência da decisão das pequenas maiorias, tomam decisões.
O que o processo Humble Bee traz de novo é uma clara separação entre o que o que é recolha/ descoberta/ invenção e o que é integração de informação. O sucesso do processo de comunicação das abelhas centra-se no facto de gerirem estas duas necessidades de formas distintas, sugerindo que nas empresas deve haver uma estrutura que permita um comportamento mais individual/de poucas interacções na captação de informação das redes wiki ou na gestão de criatividade e outro de grande intensidade comunicacional (ex: grupos de trabalho) na fase de integração da informação recolhida/criatividade desenvolvida. Gerir convenientemente será saber adoptar a cada momento o adequado processo comunicacional.

sábado, 13 de junho de 2009

Puramente #21 - A Sense Of Urgency

Nome: A Sense of Urgency
Autor: John Kotter
Data Original: Dezembro2008
Frase: "Success produces complacency, failure conduces frenetic activity – both threats to organizations."
Keywords: Real sense of urgency; Change Management; Crisis Opportunities; Nono; The Outside In
Apreciação: ***
Este livro surge na sequência do bestseller “Leading Change”, lançado pelo mesmo autor alguns anos antes. Nesse livro, o Framework de oito passos do processo de gestão tinha como ponto inicial a consciencialização do sentido de urgência. Kotter é peremptório ao afirmar que este é, de entre as oito fases, a mais importante e influente num processo de mudança.
Kotter defende que o sucesso produz complacência, um mal que se encontra frequentemente em grande número em empresas de topo, fruto do seu glorioso passado recente. Os complacentes são inibidores à evolução, mas não se encontram entre os castradores de processos de mudança. Situação mais grave e de maior dificuldade de resolução são os casos de falso sentido de urgência, onde as actividades frenéticas e inconsequentes são consequência de falta de estratégia.
O livro propõe uma estratégia para a criação de um sentido de urgência em toda a organização, assente em quatro tácticas complementares: Visão “outside-in”; atitude de gestão de topo coerente em permanência; encontrar oportunidades nas crises; gerir os “nonos” que existem em todas empresas e que, ao contrário dos cépticos – que podem ser uma mais valia num processo deste tipo – apenas destroem e portanto devem ser geridos com cuidado, em vez de ignorados. As tácticas são originais e curiosas, propondo o autor inclusivamente a criação de crises por parte do gestor como forma de evoluir mais rápida e controladamente no processo!
Para quem procura um livro de gestão de mudança para lidar da melhor forma com esse tipo de processos, este não é o livro ideal, por não ser suficientemente abrangente. Está antes indicado para os que já leram algumas obras e procuram detalhar aspectos e procurar novas tendências do processo.
Publicado no Jornal de Negócios dia 9/06/2009

quinta-feira, 4 de junho de 2009

PuraMente #20 - José Mourinho


Nome: José Mourinho

Autor: Luís Lourenço

Data: Julho de 2003 - Prime Books

Frase: "Confiança, determinação, vontade de transmitir a indómita vontade de vencer""

Palavras Chave: Treino; Descoberta Guiada; Grupo; Chicotada Metodológica;

Apreciação: **

Há algum risco em apresentar  "José Mourinho", já que se fala muito de futebol e de episódios que estiveram, ou poderiam ter estado, num jornal desportivo. Já passaram seis anos desde os factos relatados neste livro de Luís Lourenço e Mourinho já conquistou mais títulos. No entanto, Mourinho não foi sempre campeão e tem derrotas importantes no seu currículo. Mesmo o melhor dos líderes não tem a capacidade de mudar tudo e, mais do que isso, não atinge o sucesso sozinho. Mourinho vence devido à sua energia, trabalho e competências, mas precisa estar inserido em boas organizações, alavancando-as e promovendo a mudança. Não há sucesso nas organizações sem bons líderes e bons líderes, por si só, também resolvem pouco. Esta é a primeira lição que o livro oferece.

O prefácio é "obrigatório". Em duas páginas Manuel Sérgio extrai o essencial das 180 seguintes. Explica o que faz de Mourinho melhor e diferente e nunca separa o líder da organização em que se insere. Põe em cima da mesa conceitos "chave" como tribo, respeito, amizade, estudo, decisão, planeamento, discernimento, liderança.

Ao longo do livro - que termina com a vitória da Taça Uefa - sucedem-se episódios que permitem conhecer a linha de acção e raciocínio do líder, sem esconder os maus momentos, erros e arrependimentos.

Na minha leitura destacaria três pontos para reflexão:
- Mourinho como disruptivo dentro da sua classe, um "first mover".
- Os jogos contra a Lázio e o conflito "Ética vs Legalidade"
- O jogador como um todo: técnica, inteligência, potencial de progressão, solidariedade, carácter.

Obviamente que não se trata de um livro conceptualmente sólido, mas de exemplos de liderança. Só que os temas abordados são aplicáveis a muitas áreas fora do desporto, a linguagem é simples e são apresentados casos, exemplos e personagens com que a maioria estará muito familiarizada. É aqui que reside o verdadeiro poder diferenciador deste livro - o seu alcance em termos de público leitor. "José Mourinho" pode ser a forma mais simples de transmitir conceitos base de liderança a quase todos.

Filipe Garcia

Economista da IMF, Informação de Mercados Financeiros

www.puramenteonline.org

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Sexy Convém?

A última década e meia foi fértil em novos formatos de comércio integrado. Centros comerciais, retail parks e outlet centers foram nascendo pelo país, em particular nas zonas suburbanas que circundam as duas maiores metrópoles. Esse movimento está na fase de maturação, com os próximos anos a trazerem pouco mais do que novas unidades de pequena e média dimensão em cidades que são precisamente de pequena e média dimensão. Esta é, desde logo, uma incontornável mas quase invisível vantagem que resulta da actual crise: aumento de sustentabilidade da oferta existente no médio prazo.
Incontornável é também que os portugueses, como quase todos os povos civilizados, não gostam de centros comerciais. Não gostam, mas compram. Desprezam, mas usam. O curioso é que muitos deles começaram por dizer que não gostavam “de ir ao centro comercial” por pressão social dos seus círculos, mas acabaram por verdadeiramente não gostar da experiência de comprar nesses espaços, e muito menos elegê-lo como destino de lazer.
No extremo oposto, a baixa do Porto está ao rubro, com noites loucas de milhares de pessoas na rua, parques de estacionamento que transbordam, bares a abrir a cada semana, restaurantes a multiplicarem-se, festas a sucederem-se. A baixa está trendy. Está sexy.
Os centros comerciais não são sexy, mas são outra coisa que hoje ainda vale mais : são convenientes. Boa oferta, estacionamento, segurança, limpeza, ou seja uma proposta que racionalmente aumenta o risco de satisfação, embora também de previsibilidade.
A questão que sobra é: Até quando o conveniente convém mais do que o sexy?

"Stop loss" (*)

Na bolsa, a longevidade e o sucesso dos investidores não depende necessariamente do número de vezes em que se acerta. Mais importante do que a taxa de acerto é a diferença entre aquilo que se ganha quando se acerta e aquilo que se perde quando se falha. Ou seja, o valor esperado da estratégia de transacção. Ao mesmo tempo, a evidência mostra que, na bolsa, uma taxa de acerto igual ou superior a 60% é considerada muito boa, resultando daqui que, em média, qualquer investidor acertará e falhará um número aproximadamente igual de vezes. Portanto, para que o valor esperado seja positivo, a perda média não deverá ser superior ao ganho médio. Infelizmente, a natureza humana equipou-nos muito mal neste domínio! Por um lado, a maioria das pessoas não está disposta a admitir que, em média, acerta e falha de forma quase indiferenciada. Por outro lado, em geral, a natureza humana revela-se muito intolerante com os ganhos, tomando mais valias de forma relativamente prematura, e muitíssimo tolerante com as perdas, permitindo a acumulação de menos valias. Isto não acontece apenas na bolsa; também acontece nas empresas. Nas boas – distribuindo recompensas demasiado generosas em épocas de vacas gordas. E nas más – adiando, em tempo útil, a inadiável liquidação dessas mesmas sociedades. O caso que afecta o BPN é um claro exemplo deste tipo de conduta. Desde a sua nacionalização, o Estado português já lá meteu quase 2,5 mil milhões de euros que, provavelmente, nunca mais recuperará. E, desgraçadamente, não há fim à vista. Não há “stop loss”. (*) Artigo publicado no jornal “Meia Hora” a 3 de Junho de 2009.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Janela 80-20

No estudo que realizou, em 1897, sobre a distribuição dos rendimentos, Vilfredo Pareto chegou à conclusão que 80% da riqueza se concentrava em 20% da população. Nos anos de 1940, Joseph Juran, um dos “pais” da Gestão da Qualidade, alargou o princípio de Pareto a esta área de trabalho, com particular ênfase na relação entre os problemas observados e as respectivas causas. Concluiu Juran que, também aqui, se verificava a relação 80-20 e, em homenagem ao engenheiro e economista italiano, estabeleceu a conhecida “Lei de Pareto”. Nos 160 anos que medeiam entre o nascimento de Pareto (1848) e a morte de Juran (2008) a sociedade experimentou profundas transformações. A esperança média de vida situa-se actualmente no patamar dos 80 anos. Em Portugal coexistem dois fenómenos preocupantes, que tendem a tornar-se estruturais: i) a dificuldade em encontrar trabalho para os que chegam a este mercado, que se estendem por vezes até aos 30/35 anos; ii) a falta de oportunidades para as pessoas que chegam à faixa dos 50/55 anos. Verificamos, pois, que o período potencial de aproveitamento da capacidade profissional das pessoas se restringe a uma janela de cerca de 20 anos, num horizonte de vida de 80 anos. São poucos anos a produzir e muitos a consumir. Os problemas de índole social que emergem desta janela tão estreita já estão aí, por exemplo nos elevados índices de stress com que vivemos ou nas dificuldades de sustentabilidade da Segurança Social. A Lei de Pareto aplica-se a muitas situações. Será que estamos em presença de mais uma?

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Safety car

Gosto da perspectiva revelada ao olhar o actual momento da economia mundial como o da entrada em pista do “safety car”– embora condicionada, a corrida continua. Este elemento (a crise), impondo uma velocidade mais lenta e concentrando os competidores, faz ver uma (nova) oportunidade.
Assim, quando as empresas questionam o que fazer neste interregno, encontram resposta: preparem-se para uma nova aceleração. Como? Assumindo uma clara orientação para o mercado, através de dois grandes desafios: reduzir o “time-to-market” e melhorar o acesso a mercados.
Desenvolver empresas ágeis, com menos gordura (combate feroz ao desperdício) e mais massa muscular (capacidade de resposta); ou seja, melhorar as competências internas críticas (concepção, logística, serviço, etc.) para uma rápida e eficaz resposta ao mercado. Se há tendência que está consolidada é esta compressão do tempo.
Aprender a usar a informação para o sucesso de estratégias internacionais. Demasiado penduradas no “velho Mundo”, precisam apostar mais em mercados emergentes, como seja o Norte de África pacífico, a Europa Central e Oriental ou o Próximo e Médio Oriente. Que oportunidades conhecem nestes mercados? Quais os factores críticos de sucesso? Podem estar preparadas para aí competir?
As empresas vivem tempos duros mas óptimos para quebrar mitos. Mais do que subserviência a subsídios, é necessária resiliência, para os próximos meses, e audácia com trabalho duro – apostando na criatividade, no conhecimento, na inovação, na cooperação – para desenhar o futuro.
Publicado no Jornal Meia-Hora em 01-Jun-09.