quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Intervenções Concertadas

Sabe-se agora que os Estados Unidos, Europa e Japão planearam uma intervenção conjunta nos mercados cambiais. O objectivo seria de salvar o dólar nos dias de maiores dificuldades da moeda durante o passado mês de Março, quando o Bear Stearns colapsou. A notícia aparece no jornal de negócios do Nikkei (Japão) que garante que o Tesouro americano, o Ministério das Finanças do Japão e o BCE tinham efectivamente um plano de contingência para o fim-de-semana de 15 e 16 de Março. Ainda que não tenha sido colocado em prática, a existência de um entendimento sobre intervenção cambial mostra que no futuro poderá surgir algum tipo de concertação caso os movimentos sejam demasiado violentos. A última intervenção concertada no mercado cambial aconteceu em Setembro de 2000, na altura para auxiliar o euro. A última intervenção por parte do Japão ocorreu em Março de 2004. Curiosamente George W Bush é o primeiro presidente americano desde o colapso do sistema Bretton Woods (1971) que não autorizou qualquer intervenção no mercado cambial. A economia americana cresceu a 3.3% (anualizados) no 2º trimestre deste ano, bem acima dos 1.9% da 1ª estimativa. O consumo privado e as exportações estiveram na base do crescimento. O consumo privado, que “vale” 2/3 do produto, cresceu 1.7% e as exportações aumentaram 13.2%, ajudadas por um dólar mais fraco. Os números mostram uma franca melhoria da economia. Este crescimento de 3.3% sucede a +0.9% de Janeiro a Março e a -0.2% no último trimestre de 2007. Perante estes indicadores o analista da UBS diz: “Continuamos a ver números difíceis de acreditar. As outras medidas de actividade e output não mostram toda esta força, pelo contrário. Há questões que estes números devem levantar já que não são coerentes com o resto dos indicadores".

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Dólar com outro brilho

O mercado do petróleo não está a beneficiar do conflito entre a Rússia e a Geórgia. Há um mês atrás seria provável que uma situação deste tipo resultasse em novos máximos no preço do crude, mas o que sucedeu foi um novo mínimo desde Maio, já abaixo dos $113 por barril. A subida do dólar está a dificultar a recuperação do petróleo e aparentemente os preços destes dois activos influenciam-se mutuamente. À medida que o petróleo vai ficando mais barato, os produtores têm menos dólares para vender no mercado cambial, retirando pressão sobre a moeda americana. Por outro lado, com o dólar a ganhar terreno os principais exportadores de crude têm menos incentivo para diversificar as suas reservas cambiais, como têm feito até agora, o que também resultaria em menor pressão vendedora de dólares. Voltando aos fundamentais do crude, aparecem os primeiros sinais de uma diminuição de procura por parte da China. O segundo maior consumidor de petróleo e derivados anunciou uma redução de 7% nas importações em Julho, a maior quebra desde Janeiro de 2005. Começa a construir-se um cenário de menor procura destes produtos por parte dos chineses durante o segundo semestre deste ano. Também o ouro se encontra pressionado em baixa nos últimos dias, tendo já cotado abaixo de $800, o valor mais baixo em 8 meses. Os fundamentais ainda parecem ser relativamente sólidos para ouro: taxas de juro reais negativas, preocupações com a estabilidade financeira mundial e tensões geopolíticas. No entanto a correlação com o dólar dificultará a vida aos que detêm ouro se a moeda americana continuar a subir...

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O alinhamento que favorece o dólar

Quando se alinham os fundamentais económicos, as políticas monetárias dos bancos centrais, a análise técnica, o comportamento de outros mercados e a falta de liquidez, verdadeiras revoluções podem acontecer no mercado cambial. É o que tem estado a suceder desde há algumas semanas, com o euro a perder mais de 7.5% face ao dólar, 4% face ao iene e quase 3% relativamente à libra, face aos valores registados em Julho. As perdas ocorreram sobretudo após o discurso de Trichet na passada 5ª feira, em que o BCE reconheceu que a desaceleração económica da zona euro poderá ser bem maior do que o esperado. Foi o “gatilho” para a queda do euro. A falta de liquidez em Agosto e a proximidade a níveis técnicos relevantes fizeram o resto. A questão do Euro /Dólar deixa de estar apenas centrada no que o BCE ou a FED vão fazer em termos de taxas, mas passa a estar assente na análise da condição económica da zona euro. Ainda ontem pela manhã Klau Liebscher (membro do BCE que atingirá a reforma este mês) dizia que não poderá haver complacência com a inflação, mas adiantou que as acções do banco central estariam dependentes dos dados económicos a divulgar a partir de agora... O dólar tem ainda beneficiado do recuo nos mercados das matérias-primas. Desde os máximos atingidos há cerca de um mês, o petróleo já caiu quase 25%, enquanto o índice CRB (que agrega as principais commodities) recuou cerca de 20%.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A semana dos bancos centrais

A Reserva Federal americana manteve as taxas de juro inalteradas esta semana, o que era amplamente esperado pelo mercado. O discurso sofreu uma série de alterações formais, mas no essencial a mensagem continua a mesma: há preocupação com a inflação, ao mesmo tempo que o comité de política monetária monitoriza a condição da economia como um todo e do sector financeiro em particular. O mercado considerou que o discurso não foi particularmente agressivo, pelo que as taxas do dólar poderão permanecer inalteradas por um bom tempo, com a FED a seguir a longa tradição de não mexer nos juros durante o período eleitoral. As taxas de juro (ou o seu diferencial entre duas moedas) ajudam muitas vezes a explicar os movimentos cambiais. No que diz respeito ao Eur/Usd este conceito também se aplica, mas o mercado parece mais preocupado com o que o BCE vai fazer do que com as decisões de Ben Bernanke... O Banco Central Europeu reúne amanhã (5ª feira) e não deve anunciar alterações nos juros. Aliás parece-nos que se Trichet pudesse... evitava o discurso de amanhã às 13:30 e partia já para férias! Não há muito a dizer nesta fase, a estratégia do banco não é clara e há riscos de que uma frase mais infeliz seja mal entendida. A conjuntura actual é complexa, com a inflação nos 4,1% e os indicadores de actividade e de confiança a saírem muito negativos, ao mesmo tempo que os preços do petróleo e as commodities estão a aliviar. Amanhã em Inglaterra também há reunião do banco central, igualmente sem se esperar grandes novidades. É mais um caso de um banco central sem saber muito bem que “praga” combater - a inflação ou a desaceleração económica e com a queda no imobiliário e a debilidade do sistema financeiro a causar preocupação. Na vertente cambial há a destacar um novo máximo de 7 meses no Usd/Jpy - mais um sinal de força por parte do dólar e provavelmente reflexo da entrada de investimento nos Estados Unidos.